25 de out. de 2010

Do Estadao - Brasileiro compromete fatia maior da renda com dívida do que o americano

Meu comentário: Modo ironia on (E eu achava que só os norte americanos eram burros e se endividavam até os tampos agora descobri que os sul americanos também o são) Modo ironia off. O engraçado é que, apesar da notícia evidenciar um cenário de desastre os comentaristas da notícia (expecialistas) insistem em dizer que isso é um fator positivo e que devemos aumentar ainda mais este número.
Boa semana a todos.

http://economia.estadao.com.br/noticias/economia+brasil,brasileiro-compromete-fatia-maior-da-renda-com-divida-do-que-o-americano,40105,0.htm

Brasileiro compromete fatia maior da renda com dívida do que o americano


Aqui, endividamento ‘come’ 23,8% da renda, ante 17% nos EUA; situação pode limitar expansão do crédito nos próximos anos


23 de outubro de 2010 | 16h 11


Leandro Modé, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Entre as economias mais importantes do mundo, a do Brasil é a que apresenta a menor relação entre crédito e Produto Interno Bruto (PIB), o que tem dado a muitos analistas, bancos e autoridades do governo a certeza de que o segmento continuará crescendo nos próximos anos. No entanto, um dado ainda pouco explorado por aqui indica que o cenário pode não ser tão róseo.
O comprometimento da renda do brasileiro com o pagamento de dívidas já supera até mesmo o nível dos Estados Unidos. Como se sabe, os americanos se recuperam vagarosamente do estouro de uma enorme bolha de crédito, concentrada no setor imobiliário.
Segundo o mais recente Relatório de Inflação do Banco Central (BC), as dívidas "comem" 23,8% da renda dos brasileiros. Nos Estados Unidos, o índice é de 17,02%, de acordo com o Federal Reserve (Fed, o banco central do país). Quando vão aprovar um crédito, os bancos consideram como teto para comprometimento da renda um nível entre 30% e 35%.
Como ainda se empresta pouco no Brasil – 46,2% do PIB, ante 190% nos EUA, 108% na China, 200% na Espanha e 98% no Chile –, a explicação para o comprometimento da renda já elevado passa primeiro, pelos juros altíssimos cobrados no País; depois, pelos curtos prazos de financiamento e, por último, pela renda ainda baixa se comparada ao padrão das nações desenvolvidas.
Um exemplo prático deixa clara a diferença entre o comprometimento da renda e o nível geral de crédito na economia. Considere-se um brasileiro que tenha comprado um carro de R$ 40.000 em 6 anos, com taxa de juros de 12% ao ano. A prestação mensal vai ser de R$ 774. A renda média do trabalhador, aqui, é de R$ 1.500/mês. Ou seja, no exemplo, o comprometimento da renda chega a 52%.
Nos EUA, um carro pode ser financiado em até 8 anos, segundo levantamento da LCA Consultores. Se custar US$ 60.000 e a operação tiver juro de 4% ao ano (taxa que consta no último relatório de crédito do Fed), a prestação mensal será de US$ 730.
Para alguém que tenha renda média para o padrão local de US$ 4.000/mês (líquidos de impostos), o comprometimento com a dívida será de 18% do orçamento. Em compensação, o endividamento total será superior ao do brasileiro.
Limite
"Hoje estamos perto do limite? Sim", afirma o superintendente de empréstimos às pessoas físicas do Banco Santander, Rogério Estevão. "Mas há um segredo no Brasil: outras pessoas serão incorporadas ao mercado de crédito nos próximos anos", completa.
O argumento do executivo toma por base a forte ascensão social dos últimos anos. Ele lembra que, em 2003, as classes D e E (que quase não têm renda disponível para endividar-se) totalizavam 55% da população. A projeção do banco é de que, em 2014, esses dois segmentos da pirâmide caiam a 28% da população.
Em números absolutos, está se falando de 40 milhões de pessoas. "Quem não se endivida hoje passará a se endividar", conclui Estevão. "Frise-se que isso não quer dizer entrar pelo cano. Ter crédito significa ter acesso a consumo."
A economista Mirela Scarabel, da LCA Consultores, também demonstra otimismo com as perspectivas para a concessão de empréstimos no País. Em primeiro lugar, porque a renda deve continuar crescendo nos próximos anos. Entre 2000 e 2010, a massa salarial avançou 307%. Em segundo, porque os prazos de financiamento continuarão aumentando – em 2008, o prazo médio dos empréstimos às pessoas físicas era de 469 dias, ante 536 dias em agosto deste ano.
Por fim, Mirela acredita, como a maioria absoluta dos analistas, que a tendência para as taxas de juros no País é decrescente. Do ponto de vista macroeconômico, a avaliação é amparada na expectativa de queda para a taxa básica (Selic), hoje em 10,75% ao ano.
Mas há, também, dois fatores de mercado: modalidades mais "baratas" estão ganhando cada vez mais espaço, como o crédito imobiliário, o consignado e para aquisição de veículos, e a competição entre as instituições financeiras tem crescido fortemente.
"A expansão futura depende de essas condições se confirmarem", observa a especialista. A relação crédito/PIB no País dobrou entre 2004 e 2010. A LCA produz um indicador semelhante ao do Banco Central, mas inclui no cálculo outros componentes da renda (como dinheiro proveniente de aluguel). A conclusão é de que o comprometimento da renda encerrou agosto em 16,8%, praticamente no mesmo nível dos Estados Unidos.
Cautela
O gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian, Luiz Rabi, e o analista de instituições financeiras da agência de classificação de risco Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, são mais cautelosos.
"O nível de comprometimento da renda pode ser uma barreira à expansão do crédito", afirma Rabi. "Pode ficar mais arriscado emprestar. O grande nó a desatar é como aumentar o endividamento (do País) sem avançar no comprometimento da renda."
Para Santacreu, "o elevado comprometimento da renda pode deixar o devedor vulnerável". "Se os bancos não controlarem o indicador, pode ser um elemento bem nocivo mais à frente", diz o especialista.

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