2 de set. de 2010

A CULTURA DA DIVIDA

A CULTURA DA DIVIDA
Publicado em: 01/09/2010
http://www.artigonal.com/financas-pessoais-artigos/a-cultura-da-divida-3177400.html

Qualquer referência que se faça sobre economia ou poupança, sempre nos remete a idéia do cofrinho em forma de porquinho. Este comportamento cultural de nossos ancestrais, pais ou avós, reflete o espírito de reservas tão antigo quanto o comportamento antropológico na reserva de alimentos. Esta característica do ser humano que bem diferencia dos animais levou sua supremacia sobre todas as espécies vivas superiores, tanto em poder (inteligência) como em número quantitativo de seres.

As crianças sempre eram orientadas pelos pais, para que parte de sua mesada fosse colocada num cofrinho, para num momento futuro terem para uma eventual necessidade. Cremos que esta atitude fosse um modo não tanto de enriquecimento, mas muito mais uma pedagogia para que os filhos no futuro tivessem o espírito de fazer reservas financeira para enfrentar os momentos dramáticos da vida, como doenças, desemprego, e mesmo em investimento na casa da futura família.

Somos de uma geração criada numa cultura econômica da inflação, que qualquer poupança que se fizesse gerava uma frustração, pela amarga perda do valor aquisitivo da moeda. Diante desta verdade, esta cultura foi devagarzinho se esvaindo para dar lugar a um consumismo desvairado, como se nada mais adiantasse fazer economia. Embora, estejamos numa nova realidade de moeda estável, infelizmente esta bela prática de fazer economia do cofrinho se transformou numa lenda e mito da história.

A realidade econômica de hoje dando oportunidade de se fazer compras e mais compras leva ao comprometimento do futuro em pagamento de prestações que já ultrapassaram o limite de nossa própria existência. Prestações a se perderem de vista, de 30, 60, 80 meses e por grandeza em 10, 15, 20 e até trinta anos (Já tem charges de 250 anos!). E pior de tudo, sem o mínimo cuidado dos juros, mas sim e somente sim com a possibilidade orçamentária do momento. Elas deverão ser pagas pelo suor do trabalho numa verdadeira escravidão invisível do futuro. Tudo por conta do desejo de consumir, ou melhor, usufruir agora, do que esperar para o futuro numa oportunidade mais segura e sem comprometimento irresponsável de sua renda. Vivemos o "carpe diem quam minimum credula postero" (aproveite este dia, confia o menos possível no amanhã), ou seja, o aqui e agora. Ninguém mais quer esperar e fazer uma economia para aquisições à vista, mas sim mergulhar num endividamento monumental que não se sabe mais onde irá parar. Pelos estudos macroeconômicos esta bolha financeira criada pelo artificialismo do crédito escritural, levará fatalmente a um beco sem saída, ou seja, para um colapso da economia.

A saudável cultura ensinada pelos nossos pais na sua santa ignorância do cofrinho simbolizada no porquinho de porcelana, foi substituída por algo mais macio, cartões de crédito, carnês, faturas, boletos, cheques pré-datados etc., pelo delírio de consumo, traduzida na cultura da dívida.

Sergio Sebold – Economista e Professor – sebold@terra.com.br

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