2 de set. de 2010

ENTREVISTA EXPLOSIVA com ALOYSIO BIONDI

ENTREVISTA EXPLOSIVA com ALOYSIO BIONDI
(Revista Caros Amigos - No. 19/Outubro de 1998)

Retirado do blog Mimicas - http://blog.mimicas.com/artigos/entrevista-explosiva-com-aloysio-biondi/
A manipulação do jornalismo econômico
Marco Frenette - O Jânio de Freitas fez um artigo falando da linguagem hermética que os economistas usam, e deu um exemplo, dizendo que lê colunas de economia e só compreende 15 por cento. E a questão que ele levanta é se isso é devido ao fato de ser um assunto realmente complexo, ou existe uma má formação dos economistas, ou ainda se há um complô nas editoras para transformar aquilo numa maçaroca só. Com a sua experiência, como você vê isso?
Aloysio Biondi - Como o que está predominando no noticiário é o mercado financeiro, voltou tudo a ser muito hermético, porque se fala como se o leitor comum estivesse acompanhando as expressões que eles usam e que querem dizer o contrário, mas não precisa ser só na área financeira. O Fernando Henrique, hoje de manhã, falou que vai “alargar a base” dos contribuintes, quer dizer, alargar a base significa aumentar o número de contribuintes. (risos) Se ele aumentar, vai pegar quem ganha menos. Mas vejo as coisas de maneira totalmente diferente. Na década de 60 tinha a história de que você não podia escrever em economês. Até uma vez, eu estava na Veja, em 1969, já tinha saído da Visão, onde fazia matérias de capa contra a política econômica do Delfim, e o Delfim não gostava muito de mim naquela época, e fui para a Veja ser editor de mercado de capitais uma coisa de que teoricamente eu podia falar, a bolsa estava no auge e tal. E o Roberto Civita começou a insistir que eu assumisse também a editoria de economia. Eu dizia: “Não vai dar certo, porque não vou falar que tem milagre”. E ele: “Vai dar, sim” etc. E eu até brincava dizendo que a sorte dos; ministros e dos donos de revista e jornal era que o povo não entenda o que estava escrito ali. Quando escrevesse em português… e aí tive a prova disso quando o Banco Mundial recusou um empréstimo para o grupo Hanna fazer um ramal no porto de Sepetiba - que é uma coisa que vai dar de novo uma grande tragédia, porque é totalmente antieconômico - e o governo brasileiro liberou o dinheiro para esse grupo fazer o ramal. Eu sabia que era antieconômico, tinha parecer do Banco Mundial contra, dizendo que a Central do Brasil ia subsidiar a mineradora. E no meu texto abri um travessão só: “subsidiar, isto é, a Central do Brasil vai ter prejuízo para a Hanna ter lucro”, e fechei. Na segunda feira, o Roberto me chamou: “Será que toda semana tenho de abrir a revista e me irritar?” Eu falei: “Ué, vocês dizem que não é para escrever em economês; em segundo lugar, avisei que, quando começasse a escrever em português, as pessoas iam entender e ia ser diferente; em terceiro lugar, também não vou abrir a revista e me envergonhar, então não dá. Volto para o mercado de capitais”. E voltei para o mercado de capitais.
Marco Frenette - Nesse sentido, essa linguagem hermética…
Aloysio Biondi - O grande problema não é a linguagem hermética. O grande problema é que o jornalismo econômico nunca esteve tão vergonhosamente atrelado ao governo. A ombudswoman da Folha até falou disso. Por exemplo, a imprensa fica falando só da queda das bolsas. As bolsas só caem depois que a economia estourou. Os países asiáticos escancararam o mercado, tiveram saldo negativo na balança comercial, precisaram atrair capital estrangeiro para cobrir, elevaram os juros - chegou um momento em que não tinham mais o que fazer, aí o investidor tem medo de calote e sai correndo. A bolsa cai quando todos os indicadores da situação da economia real mostram que a economia já foi pro brejo. A bolsa é a última etapa, mas o noticiário é todinho centrado na bolsa. E você vê aí o jornalismo, a televisão, dizer bisonhamente: “Mas em que isso afeta a vida do cidadão comum? O que a bolsa tem a ver?” A bolsa não tem nada a ver, só que ela mostra que a economia está mal. No caso do Brasil, se você pegar os dados de maio, saíram 400 milhões de dólares; em junho saíram 800 milhões de dólares, só da bolsa. Julho teve resultado positivo apenas por causa da privatização da Telebrás. Então, o jornalismo nunca enfrentou uma fase tão ruim no Brasil. No tempo da ditadura, a gente sempre aceitava um projeto sabendo que talvez não fosse receber etc., mas que representava uma brecha. Qual é essa brecha? São os veículos que estão mal das pernas, pagam mal e contratam pouca gente, 0 diferencial que tem é você poder falar alguma coisa. Só que a hora em que você cresce, inclusive politicamente, começa a incomodar. E aí o patrão é procurado para acordo, onde você dança. Isso é a história de projetos nesse país.
Sérgio de Souza - Quem procura o patrão?
Aloysio Biondi - O governo.
Sérgio de Souza - Por meio de que pessoa?
Aloysio Biondi - Ah, não sei. Sei que hoje é trágico, porque as empresas jornalísticas fecharam com esse governo, não só pela onda neoliberal, mas também por causa da privatização das telecomunicações. Como todas as empresas jornalísticas acham que o futuro é a tal da multimídia, ninguém queria ficar de fora, e todos os grandes grupos jornalísticos entraram nessa concorrência. E, como sabem que esse governo não brinca em serviço, porque essa história de que é concessão e que é leilão é muito relativa, todo mundo quis ficar bem. Pelo seguinte: essa história da crise do mercado financeiro - muito antes de a bolsa começar a cair, você tem outros indicadores, como a taxa de juros para empréstimo para o Brasil lá fora. O mercado futuro de dólar, o mercado futuro de juros, esses mercados indicam o grau de desconfiança no país. Mas as informações negativas não aparecem nos títulos ou com destaque. No meio da coluna está a informação de que ou já houve saída de dólares, ou há pressão sobre os juros. O Brasil quebrou, na verdade, já no fim de maio. Foi a única vez que um jornal (a Folha) deu de manchete alguma coisa que não fosse bolsa. O Estadão, nada. A Folha deu de manchete: “Governo cede ao mercado e adota juros pós-fixados”. Por quê? Porque fazia três semanas que o governo estava tentando vender título para rolar a dívida e não conseguia, o mercado não queria mais. Por quê? Porque o mercado sabia que o governo ia ter de elevar os juros de novo. Não é porque o mercado seja ruim, é que os caras são informados, eles fazem isso para não ter prejuízo. Sabiam que a situação era crítica…
Carlos Azevedo - O que o mercado sabia concretamente?
Aloysio Biondi - O mercado sabia concretamente o que até eu escrevi em abril para a Revista dos Bancários. Todo mundo sabia concretamente, há muito tempo. Você sabe quanto vence da dívida interna do governo neste mês de outubro? Todo mês vencem uns 22, 23. Sabe quanto vence agora? Quarenta e sete do Tesouro e 8 do Banco Central.
Carlos Azevedo - Quarenta e sete o quê?
Aloysio Biondi - Bi. O governo tem de rolar 55 bi neste mês de outubro agora. Todo mundo sabia, o mercado sabia. Isso seria a manchete. Antigamente, quando você hierarquizava a informação, dava a informação principal na manchete, ou no lead, não escondendo no meio. Qual é a informação? De julho a setembro, o governo tinha de rolar 105 bilhões da dívida interna. E da dívida externa também você sabia mais ou menos quanto tinha de rolar, de 40 a 50. Então, em maio, a Folha deu aquela única manchete e depois a imprensa não falou mais nada. Nem nas seções de finanças. A Folha, algumas vezes, de um mês para cá, dá no título da seção de finanças: “Dólar é pressionado”. Depois que a fuga de dólares começou, não dava para esconder, mas muito antes você tinha todos esses sintomas. Por exemplo, as linhas de crédito de importação e exportação começaram a disparar os juros, empresas brasileiras que tinham empréstimo lá fora foram renovar e não conseguiram, ou os credores chegaram a pedir 8 por cento acima da taxa. E tudo isso é colocado no meio do texto e o título é bolsa. Aí vêm dizer que é incompetência dos jornalistas. Incompetência uma pinóia, tem jornalista aí de altos conhecimentos técnicos, e você pega a coluna dele de três anos para cá, quantas vezes ele falou de um problema do pais, realmente? Colunistas famosos. Não falta conhecimento, não, aquilo é escondido deliberadamente. Porque, se sai um estudo dizendo que o aumento do funcionalismo vai provocar um rombo, ou acréscimo de despesa de 1 bilhão, que é uma ninharia, isso vai para a manchete de domingo do jornal. Agora, esse último aumento de juros deles, 49 por cento, segundo os cálculos só nestes quatro meses são mais 16 bilhões, 4 bilhões por mês. E é isso que tinha de estar na manchete.
José Arbex - Mesmo a passagem do perfil de juros prefixados para pós-fixados, ninguém falou e isso é um escândalo.
Aloysio Biondi - O pós-fixado é exatamente isso, não existe ataque especulativo, é conversa. O banqueiro, o investidor, o administrador de fundo estrangeiro vêem que a dívida está em 300 bilhões, o déficit em 7 por cento do PIB, a balança comercial com buraco de 8 bilhões, o turismo foi para 6 bilhões por ano, remessa de lucro etc., ele faz as contas e sabe. Na verdade, como eu disse, o pais já quebrou no fim de maio, quando não conseguia mais vender título. Esses dados todos o mercado tinha. Havia 60 bilhões de compromissos externos para pagar e uma rolagem de dívida interna na faixa de 20 bilhões por mês e que em outubro ia bater em 55. E tem outra coisa escandalosa: é tão manipulado, que eu recebia no DCI o noticiário da Agência Estado. E, no meio do texto sobre o mercado, o repórter colocava já esse começo de fuga ou a pressão sobre os juros, e eu dava em manchete: “Aos poucos o contorno de uma nova crise cambial”. No dia seguinte eu pegava o Estadão, e a coluna que eu tinha recebido da Agência Estado, no Estadão não é que não estava no titulo da página, tinha sido cortada a informação. Até andei guardando alguns para um dia mostrar. Então é uma grande manipulação, sim. Quando chegou ao Brasil em 19 de julho o homem do FMI, o Tanzi, já avisou que o Brasil precisava fazer um “ajuste fiscal”, um pacote, pois o rombo do Tesouro estava preocupando os banqueiros e os investidores, criando o perigo de uma “fuga de dólares”. Isso foi em julho… A Folha deu em duas colunas na primeira página, o Estadão não. Quer dizer, o FMI vem aqui em Brasília, fala que o rombo estava preocupante, que o governo ia ter de fazer um ajuste, e diz literalmente, a Folha deu entre aspas: “Se não pudesse fazer agora, que fosse logo depois das eleições, em outubro”. Isso não devia ser manchete? Isso foi em 19 de julho, você estava às portas do leilão da Telebrás então estava vivendo um momento totalmente artificial. Foi o canto do cisne ou o canto do pato, como você quiser. (risos) Só houve um ligeiro aumento porque estava entrando dólar em razão da iminente privatização da Telebrás, mas em maio/ junho a bolsa já tinha perdido dólares. A crise já tinha chegado. Mas a imprensa escondeu.
A perda da credibilidade
João Noro - O que é a Moody’s?
Aloysio Biondi - É essa agência de consultoria que dá nota aos países. Bem, tem um terceiro fato que os jornais dão só lá dentro, o que é uma grande esculhambação: desde outubro, o governo está usando maciçamente o BNDES, o Banco do Brasil, para tentar segurar o dólar para não estourar, não ter de desvalorizar o real, e segurar a bolsa. Os fundos de pensão tiveram grande prejuízo no primeiro semestre. E isso vem no meio das colunas dos jornais. Primeiro vinha só assim: “Operadores garantem que houve de novo operação chapa branca”. Nem falavam o que era. Eu puxava para título de primeira página no DCI. Esse pessoal do governo é tão incompetente, que por volta de abril dizia: “Beleza, acabou a crise”. Com essa convicção, um diretor do Banco Central deu uma entrevista para o Celso Pinto (colunista da Folha) e confessou que, em outubro de 1997, o Banco Central entrou maciçamente no mercado e que, inclusive, o Banco do Brasil chegou a ter 20 bilhões de dólares vendidos contratos em mercado futuro - para segurar a cotação, isto é, para evitar a desvalorização do real porque, com todo mundo querendo comprar para mandar para fora, os preços iam subir. O Banco do Brasil, para dar a impressão de que o governo tem o controle da situação, passa a vender, a mando do banco Central, que usa também alguns banqueiros amigos. Então, as grandes negociatas podem estar sendo feitas com essas intervenções do governo, não é?
Marina Amaral - Quando você diz que o país quebrou em maio, as pessoas que acompanham economia já não sabiam que isso ia acontecer?
Aloysio Biondi - Aí vem um aspecto. O célebre artigo do Krugman - quando ele fala, todo mundo cita, não é? - tem um parágrafo muito interessante, em que ele diz que precisa ter coragem para admitir que a liberação de mercados teve efeitos desastrosos. Ele entra na área psicológica, dizendo que as pessoas estão até com vergonha, depois destes quatro anos de exaltação do modelo neoliberal, agora chegar e dizer: “Olha, a gente estava errado”.
Marina Amaral – Eu tinha perguntado se não foi uma surpresa que o país quebrasse em maio?:
Aloysio Biondi - Não, essa manipulação, inclusive, está no meio dos textos. Você pode pegar um jornal de hoje, está lá: “Segundo operadores, o Banco do Brasil voltou a tentar segurar as cotações etc.”. Então, você tem o governo despejando rios de dinheiro no mercado. Mas a imprensa não dá destaque.
Mais exemplos de manipulação editorial
João Noro - Você poderia explicar o que é a crise asiática, a mundial, e a correlação com o Brasil?
Aloysio Biondi - Espera aí, lembrei de outra coisa na fala do Krugman. Ele diz também: “Imagina o editor de revista que durante estes quatro anos privou com banqueiros, economistas etc., e que nestes quatro anos fez apologia do modelo, como vai agora chegar para o leitor e ….”- manda ele pro Brasil que ele aprende com os caras aqui. (risos) Há colunistas que passam quatro anos falando outra coisa, e depois escrevem: “Como eu previ…”. É claro que as editorias de economia seguem uma orientação da própria empresa jornalística: “Não vamos ser pessimistas”. Porque, se a Folha num determinado momento deu a manchete e depois não deu mais, e se o Estadão não deu nunca, e se as próprias seções de finanças não jogam no título o que está acontecendo, evidente que isso é uma orientação editorial, mas a televisão…
Sérgio de Souza - Tem um programa diário sobre economia na Globo News, de meia hora, ninguém entende nada do que eles falam. (risos)
Aloysio Biondi - Aí você entra na história desse comportamento coletivo. Na época do Simonsen, ele não falava “nível”, falava “patamar”. Então todo jornalista escrevia: “O patamar…”. Quer dizer, achavam: “lá posso ir no almoço do Clube Nacional, porque já sou da tchurma”. Acontece muito isso, o jornalista econômico introjeta, acaba se sentindo parte do sistema. E, de modo geral, acho que neste momento há uma dificuldade da equipe econômica e dos jornalistas econômicos em aceitar a realidade. Porque, depois da crise asiática, os textos são todos iguais. Claro que a longo prazo o Brasil é um pais inacreditável. Mas eles falam assim: “Existe confiança no Brasil, tanto que compraram a Telebrás”. Até eu queria, se tivesse dinheiro. A longo prazo e com aquele preço, é um negócio maravilhoso. Não tem nada a ver. Porque, a curto prazo, rombo na balança comercial, rombo em conta corrente, e déficit do governo, esses indicadores de que você pode ter um calote de uma hora para outra são terríveis. Para a gente fazer justiça, não é só a equipe econômica, não são só os jornalistas. Se você pegar os analistas desses grandes bancos, eles continuaram dizendo que o Brasil estava agindo corretamente. Elogiaram aquele pacote de novembro, mas vários economistas de oposição mostraram que o que se ia gastar com juros comeria de longe a pretensa economia.
José Arbex Jr. - Acho que existe uma sensação no Brasil de que não precisamos produzir nossa análise de mundo. Ela já vem pronta pela Reuters, pela CNN, pelo FMI, pelas grandes agências financeiras internacionais. Os jornais apenas reproduzem. Você não acha que junto à globalização veio uma certa homogeneização do pensamento, um certo sufoco do pluralismo de idéias que padronizou o discurso de muitos jornalistas, muitos economistas e muitos especialistas?
Aloysio Biondi - Acho que o noticiário é superficial e fragmentado. Mas o trabalho de edicação é de melhorar o nível da informação, transmitir a realidade, e isso não acontece. Veja o caso da Rússia, por exemplo: não explicaram por que a Rússia quebrou, mais uma vez você precisa ficar garimpando, aí descobre que a arrecadação na Rússia o ano passado foi de 20 por cento do PIB, este ano só 8 por cento. Por quê? Aí falam que é porque o russo não gostava de pagar imposto. (risos) Não é. É porque o preço do petróleo caiu pra burro, e a arrecadação de impostos com o petróleo despencou. Como aconteceu também com a Venezuela. Não tem nada a ver com o Brasil. A coitada da Venezuela tinha superávit, todos esses dados estão perdidíssimos no meio do noticiário. Venezuela não tem nada a ver, Chile não tem nada a ver, o preço do cobre despencou, crises típicas de balança comercial. No caso da Rússia é isso. Quebrou foi o Tesouro, que deu o calote. Então precisa saber se essas matérias não são ideologizadas. Falam assim: “A Rússia já recebeu 22 bilhões do FMI”. Quanto ela recebeu até agora do FMI?
José Arbex Jr. - Quatro bilhões, não é?
Aloysio Biondi - Exatamente, a primeira parcela de 4 bilhões. O pacote é que era de 22 bilhões. “A Coréia recebeu 42 bilhões.” Primeiro, que não recebeu; segundo, que já está com 25 bilhões de reservas. Bom, sobre a uniformização da imprensa, acho que já se falou aqui o jornalismo nunca passou uma fase tão ruim, não só o econômico, mas como um todo. Se der tempo, vou citar algumas matérias nojentas que tenho visto. Nojentas, porque isso não é editar só, não é só tentar esconder. É pauta feita para manipular.
Sérgio de Souza - Pode falar agora.
Aloysio Biondi - Defendo a tese de que a gente foi submetido a uma lavagem cerebral, os donos de jornal devem ter sido chamados a algum lugar. O Betinho, num artigo na Folha, escreveu que tinha visto um documento do Banco Mundial, que deve ser ligado ao Consenso de Washington, dizendo que não adiantava tentar salvar os bancos estatais porque o Banco Mundial já falava que tinha de privatizar tudo. Então a gente sabe que tudo veio de fora. Houve um processo de lavagem cerebral, em que as televisões, por exemplo, começaram a mostrar desastres até na Paraíba, em Catitó - preparando a opinião pública para aceitar a privatização das rodovias. E é a técnica jornalística exercida com grande competência. Você imagina, todo mundo sentado na sala, 8 horas da noite, o Jornal Nacional - vi dois casos gritantes, onde até a pauta já é deliberada. Um é assim: foram descobrir 100.000 toneladas de feijão podre no Paraná. Olha a construção, a chamada: “No país da fome, 100.000 toneladas de feijão apodrecem nos armazéns do governo”. Falar em fome mexe com a emoção das pessoas, né? Primeiro, que os armazéns não são do governo, porque no tempo da Zélia se deu prioridade à iniciativa privada. O governo só pode estocar coisas nos armazéns dele depois que os armazéns privados estiverem lotados, que é para pagar aluguel para os caras. Se o armazém de Goiás esvazia, eles levam o feijão daqui para lá, para lá ficar ocupado. O Ceasa quebrou por causa disso. Como quebraram as siderúrgicas, porque cobravam 25 por cento do preço. Como as telefônicas tinham prejuízo, as energéticas tinham prejuízo, porque as tarifas eram irreais.
Marina Amaral - Mas, quando a televisão fala que no país da fome o feijão apodrece no armazém do governo, não é critica ao governo?
Aloysio Biondi - Estou lembrando que eles mostravam as rodovias provocando acidentes, quer dizer, foi toda uma constante para jogar a opinião pública contra o Estado administrador, para tirar o Estado de tudo. O outro exemplo foi também no Jornal Nacional: “Rio aumenta empregos, numa época de fechamento de vagas”. Isso foi pauta, o pauteiro sabia que 0 IBGE ia divulgar naquele dia um dado de desemprego. Então mostraram a fábrica nova da Brahma que ia ser inaugurada e aí, en passant, quase como quem não quer nada: “Isso é muito bom, no momento em que o IBGE anuncia que a taxa de desemprego está em alta. (risos) Houve uma grande manipulação para predispor a opinião pública a aceitar a privatização.
Carlos Azevedo – O caso da Telebrás também.
Aloysio Biondi – O caso da Telebrás, o último anúncio de televisão lá em São José da Tapera, o cara dizendo: “Nesse lugar aqui não tem nada, mas logo, logo terá telefone”. Mentira! Os contratos prevêem que é só a partir de 2001 em cidades de menos de 1.000 habitantes. Outra coisa: há uma intenção deliberada de manter o otimismo. Por exemplo: a inadimplência. Em São Paulo era de 70.000 carnês por mês. Foi para 100.000, 150.000, 200.000, 230.000, 250.000, 350.000, 400.000 por mês. Na primeira quinzena de setembro, 263.000.Vai para 500.000 carnês. Já bateu em 400.000 por mês, não é? E o acumulado? Está em 6 milhões de carnês, contra 7011.000 antes do governo FHC. Quando de 400.000 oscila para 386.000, vem manchete de página - o jornalista tem a temeridade de dizer “Inadimplência já começa a cair”. De 400.000 para 386.000, quando a média histórica era 70.000! Estamos vivendo realmente uma loucura. Reduzir IPI de carro para vender. Vender pra quem, se você tem 6 milhões de carnês em atraso?
José Arbex Jr - Você viu que bem mais de 20 por cento do cheque sem fundo é para comprar comida? Tem um dado muito curioso aí.
Aloysio Biondi - Pois é, tenho algumas manchetes bem canalhas, que mostram a que ponto o jornalismo chegou. Por exemplo, em outubro do ano passado, saiu a pesquisa de uma consultoria sobre o grau de endividamento do consumidor. Que serviu de alerta, mostrando que 40 por cento do orçamento das famílias estava comprometido já com prestações etc., e 20 por cento eram os pré-datados que os supermercados começaram a aceitar. O Estadão transformou esse índice de endividamento, que já mostrava para onde você estava caminhando, em manchete de capa na seguinte linha: “Real dobra o acesso do consumidor ao crédito”. (risos). E vinha lá a ladainha mentirosa: “Graças à estabilidade da moeda, as famílias brasileiras estão conseguindo planejar o seu orçamento. Por isso, hoje em dia 40 por cento…” - é aquele padrão de tudo o que acontece, por pior que seja, transformado num fato demonstrativo das maravilhas da estabilidade de uma moeda. O mesmo Estadão deu uma página, capa da Economia: “Banco do Brasil tem seis agências num só bairro”. E embaixo: “Distorção mostra grau de desperdício dos bancos estatais”. Bom, o bairro era Copacabana, que é uma das maiores densidades populacionais do mundo, um lugar que só perdia para Hong Kong e Nova Délhi, em termos de gente por metro quadrado. Já havia uma heresia inicial. E tinha um box, que na última linha dizia assim: “No mesmo bairro” (coitadinha da repórter, pensou: de repente o editor deixa passar e fico em paz com a minha consciência), “os dois maiores bancos privados brasileiros, Itaú e Bradesco, têm cinco agências cada um”. (risos)
José Arbex Jr. - E passou.
Aloysio Biondi - E o editor também quis fazer de conta. “Faz de conta que eu tenho ética ainda.” E tem a melhor de todas, que é da Gazeta Mercantil. Estou dizendo, houve uma campanha muitíssimo bem-feita contra o Estado. Sabe-se que, com todos os choques, os depósitos do Fundo de Garantia da década de 70, por exemplo, perderam até 95 por cento do valor. A matéria de uma repórter era maravilhosa duas páginas, um estudo mostrando essa perda por causa dos choques e dos expurgos. Dou um doce para quem adivinhar qual é a manchete: “Estado administra mal a poupança do trabalhador”. Isso não é ser incompetente, é ser canalha.
José Arbex Jr. (rindo) - Muito boa essa..
Aloysio Biondi - Muito boa porque não foi você que perdeu seu fundo de garantia na década de 70. Em resumo, a imprensa dos últimos anos é isso dai, além de esconder a informação, de não dar idéia do que está acontecendo, de transformar tudo em róseo, chega ao ponto de pautas deliberadas para esvaziar o fato do dia, e chega a inverter 0 sentido da notícia.
Ricardo Vespucci - E a partir de quando você detecta isso?
Aloysio Biondi - Desde antes de começar este governo, mas estes últimos quatro anos foram uma tragédia.
A inserção dependente
Carlos Azevedo - Nos anos anteriores ao Real, a balança comercial vinha sendo superavitária.
Aloysio Biondi - Superavitária até 12 bilhões.
Carlos Azevedo – A partir do Real ela começa a cair. E o Gustavo Franco, que era da área internacional do Banco Central na época, disse: “Que bom, é importante que isso aconteça e tal”. Como é essa história?
Aloysio Biondi – Este governo começou querendo o déficit. Depois, passou a dizer que a gente ia ter superávit, que os investimentos eram multiplicadores. E estão prometendo superávit faz tempo. Por que o Gustavo Franco defendia o déficit? Isso é teoria do Delfim, de economista: se você compra a prestação, você está, como eles dizem, antecipando seu consumo - você não tinha dinheiro para comprar uma geladeira à vista, foi muito bom o banqueiro emprestar para você porque, antes de ganhar o dinheiro para ter a geladeira, você já pôde comprá-la com empréstimo. Transpondo isso para um pais, eles dizem que é a mesma coisa: se você compra e fica devendo, é como se o cara tivesse te emprestado, não é? Porque você não tinha aquele dinheiro para comprar aquelas coisas “maravilhosas”, celular etc. Então foi uma “bondade” do governo norteamericano deixar você comprar.
José Arbex Jr. - Além disso, tem a sacanagem ideológica, que, vindo produto do exterior mais barato, isso vai forcar a competição aqui dentro e os preços vão cair.
Aloysio Biondi - Aí é que está. Quando a gente fala que houve uma lavagem cerebral, você teve desde a declaração do Collor, do carro-carroca, que nem era produzido por empresa brasileira, mas por multinacionais. Por exemplo, acabaram convencendo a opinião pública de que o empresário brasileiro era safado, não investia em tecnologia, era incompetente. Você vê gente que viveu na área econômica essa fase dizer assim: “A política de substituição de importações era equivocada”. Dá a impressão de que os governos brasileiros levantaram barreiras - “aqui não entra” -, e o empresário brasileiro ficou aqui tranqüilo, explorando, botando o preço que quisesse, sem se preocupar com tecnologia. Em primeiro lugar, a política de substituição de importações, depois do choque do petróleo, se deveu ao fato puro e simples de que você não tinha mesmo dinheiro para importar. Você ficou na situação de hoje, passou a ter grandes déficits na balança. O próprio Simonsen, que não era comunista, dizia que o Brasil tinha feito uma industrialização com pés de barro. Porque as multinacionais vieram, criaram fábricas de carro, de eletrodomésticos, e você não produzia o aço, não produzia o petróleo. Em 1982, quando o Brasil quebrou, produzia 170.000 barris de petróleo e consumia 1 milhão e 300.000 por dia, com o petróleo a até 26 dólares o barril. Como é que você ia comprar as outras coisas? Setenta por cento das divisas eram gastas só com petróleo. Então investiu maciçamente em aço, em alumínio, celulose, petróleo, na estrutura para atender esses projetos, e inverteu: passou a ter saldo na balança comercial. E o mercado foi fechado, pura e simplesmente, para o empresário nacional? Não. Havia os índices de nacionalização que o industrial tinha de atingir. Por exemplo: plataforma submarina da Petrobrás. Você precisa de um aço com uma liga de manganês, titânio, ou o que seja, para agüentar as correntes submarinas - havia os centros de articulação com a indústria, a Petrobrás, a Vale, o IPT entrava, desenvolvia o processo e a Aços Villares ia produzir aquele aço especial. Houve uma articulação, chamava-se núcleo de articulação, a USP entrava. Quer dizer, não foi como dizem agora. Primeiro, que você tinha mesmo que segurar a importação porque nem iam te vender. Você ia falar com o cara, ele dava risada, como é que você vai pagar, está com um buraco gigantesco só de petróleo! Não foi então um fechamento de mercado puro e simples. Você tinha realmente tarifas altas, que a Zélia começou a rebaixar. Mas, com o Real, houve uma redução brutal, escancarando o mercado. A tarifa do algodão, por exemplo, foi para zero e depois passaram para 3 por cento. Ficam dizendo que essa “abertura” era exigida pela globalização. E igual à dos outros países. Tudo é mentira para a opinião pública brasileira. Porque a tarifa modal, que é aquela cobrada para a maioria dos produtos, é fazer agora é o que, na abertura, teriam de ter feito. Principalmente a parte de financiamento. A agricultura quebrou por causa da TP, que chegou a ficar 40 pontos acima da inflação. Como agora: essa elevação da taxa de juros vai refletir na TR, quem tem imóvel financiado, com aumento de salário de 6 por cento, como fica? Quer dizer: tudo isso está levando a esta recessão. Você tem um desemprego ululante, logo você tem achatamento de salário, congelamento de vencimentos do funcionalismo, quebra da renda agrícola, para a classe média a TR de financiamento que sobe na base dos juros do mercado. Então, a gente volta àquilo: as pessoas estão loucas de achar que essa economia pode se recuperar. É matemática! Você não tem poder aquisitivo para essa economia levantar vôo de novo.
Carlos Azevedo - Mas pelo menos o Brasil conseguiu se inserir na economia internacional? Houve uma compensação?
José Arbex Jr. - De jeito nenhum. O mais dramático é que os dois principais produtos da pauta de exportação hoje são café e soja, igual há setenta anos.
Aloysio Biondi - Sustento há quatro anos que o problema foi esse escancaramento de mercado. Mas foi vendida ao consumidor a idéia de que ele ia ter acesso a coisas ótimas, maravilhosas e baratas. Só que nunca se fala que as importações têm financiamento de um ano, em que o empresário compra, vende e, se aplicar no mercado financeiro a essas taxas de juros - é o cálculo que o empresário faz -, ele está ganhando. Se vai pagar só daqui a um ano, já vendeu a mercadoria, está girando o dinheiro e não vai comprar do produtor nacional. E você teve barbaridades concretas como, por exemplo, nas telecomunicações. As importações de pecas pelas empresas já passaram o petróleo. A Ericsson tem equipamento com 97 por cento de peças importadas. As importações de peças eletroeletrônicas são 12 bilhões de dólares. Quando você começa a olhar os dados, vê que o governo fica dizendo assim: “Agora a gente está importando máquinas e equipamentos para remontar a indústria e depois a gente vai exportar”. Só que, olhando nos mapas da Cacex (a minha briga com o Delfim em 1967, inclusive, foi por isso você vê lá: “máquinas, equipamentos, suas peças e componentes”. Então, quando eles falam em máquinas e equipamentos, você pensa que estão comprando máquinas para reconstruir as fábricas, mas tudo que estão trazendo de peças e componentes em substituição ao que era fabricado aqui não é para fazer fábrica, é para fazer telefoninho celular, mesmo.
Carlos Azevedo - Eles disseram que estavam importando muito, que eram bens de capital, mas não era assim.
Aloysio Biondi - Na época do Sérgio Motta, eles falavam em obrigatoriedade de usar 35 por cento de peças nacionais. Antes de sair os editais das teles, começou-se a discutir que índice de nacionalização deveria ser. Aí, na Gazeta Mercantil - que é excelente como repositório de informações, tem tudo, basta garimpar -, no meio da matéria dizia que o governo tinha concluído os estudos de obrigatoriedade de peças nacionais, mas que a indústria não tinha gostado, porque a sugestão do governo era de 5 a 10 por cento. Isso é um desaforo! Você chegar para o empresário nacional e dizer: vou usar 5 por cento de suas peças. E a indústria também já aceita tudo, a indústria ficou querendo 20 por cento. E o debate ficou por ai: é 20, é 10, é 20, é 10. Ai os compradores já diziam: não vamos ter tecnologia mais moderna se formos obrigados a comprar peca aqui - quer dizer, é sempre a mesma coisa. E o governo, dentro do princípio neoliberal que você pode apoiar mas não induzir, anunciou a regra assim: quando houver igualdade de qualidade e de prec,o, quem optar pelo produtor nacional e precisar de financiamento, o BNDES financia! Manchete dos jornais às vésperas do leilão: “Govemo apoiará industria nacional”. De novo você está induzindo a opinião pública a achar que tudo está sendo feito corretamente.
Saídas para a crise
José Arbex Jr - E tem luz no fim do túnel?
Aloysio Biondi • Há três semanas escrevi um artigo: “Não é o fim do mundo, apenas o recomeço” - porque todo mundo estava apavorado com a crise nas bolsas. A Gazeta Mercantil, às segundas-feiras, reproduz aqueles dados da revista The Economist sobre a situação das economias mundiais. Se o jornalista econômico tivesse o hábito de olhar a tabela, veria ali, por exemplo, que os tigres asiáticos já se recuperaram, a Coréia está com superávit na balança comercial de 25 bilhões de dólares em doze meses. O jornalismo econômico é como o jornalismo policial, é fragmentado. Dá o momento de recorde e o momento de grande crise. Depois não fala mais nada e todo mundo fica pensando que só tem crise. Que é o fim do mundo. A gente já passou por várias crises em que as pessoas pensavam que o mundo ia acabar. A crise do petróleo, a crise da dívida externa nos anos 80, tudo parecia indicar que o mundo ia acabar. Com a ajuda da imprensa, ai, sim, ideológica. Porque, quando estourou o negócio do preço do petróleo, os Estados Unidos queriam invadir o Oriente Médio. Então, as revistas, a televisão mostravam sempre os xeques com aquele bando de mulheres em Londres, Paris, fazendo compras. Ficava todo mundo com aquela idéia de que só existiam eles. Poxa, os árabes tinham indústria petroquímica, incríveis planos de investimento. Mas parecia que era tudo Ali Babá, que pegava petrodólar e botava na caverna “e aqui ninguém entra”. E não era isso. Os relatórios do Banco Mundial, do FMI repetiam isso, que a economia mundial ia acabar. A Nigéria, o Equador o México, todo mundo que passou a receber passou a comprar maciçamente, você só teve deslocamento do eixo de dinheiro. E o que foi vendido para a opinião pública mundial é que os árabes eram um povo bárbaro, que não ia gastar. Não se dizia que eles tinham planos de investimentos incríveis, o Brasil fez barganhas para construir ferrovias, usinas etc., em troca do petróleo.
Carlos Azevedo - Mas qual a saída para a crise?
Aloysio Biondi - Acho que o que vem aí é o fim desse período de favorecimento para os Estados Unidos. Assim como os árabes tiveram aquele período de euforia e que foi uma transferência de renda dos países tradicionais para os países produtores de petróleo, nestes últimos quatro anos os Estados Unidos deitaram e rolaram com esse escancaramento de mercado. Você vai ter agora a inversão, com os países “escancarados” exportando para os EUA. Assim como o Japão também nadou em dinheiro na década de 80, compraram o Empire States, o prédio da ONU, compraram tudo.
Carlos Azevedo - Mas já venderam também.
Aloysio Biondi - Pois é. É apenas um ciclo. Os ” tigres asiáticos” estouraram antes e já se equilibraram. Como? Aumentando as exportações para os Estados Unidos em 30, 40 por cento depois que desvalorizaram a moeda. E agora os Estados Unidos têm um déficit mensal de 20 bilhões de dólares na balança comercial. É ciclo.
Carlos Azevedo – E o Brasil? Vai sair?
Aloysio Biondi – Somos realmente a bola da vez desde maio. Já quebramos. Com esses juros malucos, você vai gastar quase 90 bilhões de juros por ano! Que corte você vai fazer? Acho até bendita a crise, porque você vai mexer com as importações, logicamente vai criar emprego de novo e até ressucitar empresas. Não precisa daquele nível de investimento para criar emprego porque as máquinas estão aí, paradas.
João Noro - Como vai ser esse reajuste fiscal?
Aloysio Biondi - O Fernando Henrique falou hoje que preferia não aumentar os impostos, que preferia alargar a base. É um pais tão incrível, que você tinha imposto realmente progressivo, 30, 35, 40 por cento de imposto de renda, eles reduziram para duas alíquotas, 10 e 27,5 por cento. E a imprensa, que antigamente - antigamente que eu digo é há cinco anos - gritaria contra isso, não falou nada. E a classe média não tem a menor noção de que, de repente, o mais rico, o milionário, não paga mais do que ela. A Folha chegou a publicar matéria mostrando as alíquotas máximas em outros países, mas é como sempre, discretamente, lá dentro, no caderno de economia. Antigamente sairia: “Aumento de imposto do Brasil não tem paralelo no mundo”. Nada disso é editado para as pessoas verem.
José Arbex Jr - Como exportar sem maxidesvalorizar?
Aloysio Biondi - Duvido que você escape de uma máxi. Porque esse socorro internacional que deve sair, porque realmente interessa muito aos banqueiro, vai demorar algumas semanas, e a situação é crítica, com a fuga de dólares, a rolagem da dívida…
Desnacionalização deliberada
Sérgio de Souza - O que você acha que não vai ser privatizado?
Aloysio Biondi - Eles querem “doar” até a Fepasa, os caras querem vender 5.000 quilômetros de ferrovia, 3.000 vagões, seiscentas locomotivas, por míseros 230 milhões de reais. Com um detalhe, 20 por cento à vista e 80 por cento…
João Noro - A perder de vista…
Aloysio Bionti -… em 28 anos.
Sérgio de Souza - Essa pergunta estava ligada a outra: o que sobraria no Brasil em termos de participação do Estado na economia e se é real que nos países ricos essa participação chega a 20 por cento ou 30 por cento?
Aloysio Biondi - Tem um cara para o qual tiro o chapéu, que é o Paulo Nogueira Batista Júnior. Porque o pessoal senta no computador, escreve a favor ou contra a globalização, mas não tem um dado no texto. Um texto econômico e não tem um dado. E o Batista Jr. sempre vem com dados incríveis, mostrando que a participação do Estado nessas economias todas só cresceu ao longo dos últimos anos. Com dados estatísticos, mostrando o relatório da OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Marco Frenette - No caso da Petrobrás, você acha que o monopólio está cumprindo o seu papel, ou tem de acabar mesmo?
Aloysio Biondi - Acho que as estatais, como as empresas privadas, tinham distorções. É lógico que você deveria ter corrigido as distorções, e não feito o que se fez, sem nem discutir. Por exemplo, telefonia nos Estados Unidos não pode ter mais de 20 por cento de capital estrangeiro. Aqui, você começa dizendo que vai ser 49 por cento e acaba liberando total. No caso da Petrobrás, em primeiro lugar, você tem de lembrar que multinacional não afina seu interesse com o interesse do pais. Vê o Proálcool - bom ou ruim, ele surgiu das pesquisas do próprio governo aqui em São José dos Campos, porque, apesar da “crise do petróleo”, as multinacionais não tinham o mínimo interesse. Então, há setores em que você tem de ver se realmente os interesses estratégicos do país coincidem com o interesse de uma multinacional, se tem de ficar na mão dela. Porque essa história que os neoliberais criaram, de que hoje o que interessa é a tecnologia, que recurso natural é bobagem, que a história de que o Brasil tem potencial já era - tudo isso é mentira. Tudo isso é conversa, vai servir, sim, porque o petróleo nunca foi importante porque movimenta carro. Nos países do hemisfério norte, por um azar geológico - vocês entrevistaram o Bautista Vidal, não é? -, economia é movida a petróleo, não por causa do casso, mas porque eles não têm rio para gerar energia elétrica. Geram energia elétrica sem usinas movidas a petróleo ou carvão. Existe uma briga secular pelo petróleo porque é a fonte de energia que movimenta a economia. Voltando à Petrobrás, dizem que ela não nos deu auto-suficiência. Bem, ela tinha 8 bilhões de conta-petróleo, um dinheiro que o governo não passou para ela. O programa de investimentos dela é aprovado pela equipe econômica. Cortaram sistematicamente. Ainda, no ano passado, era para ser 3 bi, eles cortaram para 2, enquanto a dona Telebrás, dizia-se que estava investindo 8 bi e investiu 13,5 bi. Agora, me diga: que política econômica é essa? Que investe em celular que não produz divisa? Então, a Petrobrás cumpriu o papel dela, sim, e, em termos de tecnologia e transmissão de tecnologia para as empresas fornecedoras, ela sempre foi ultra-interligada. E acho, sim, que há setores que têm de ter controle do Estado.
Carlos Azevedo - Vi uma entrevista do Thomas Skidmore, na Globo News, e ele dizia assim: “O Brasil precisa aprender que o brasileiro não precisa comer maionese francesa, pode comer maionese brasileira”. O que ele queria dizer com isso?
Ricardo Vespucci - Posso emendar uma pergunta ai? Vejo sempre a tecnocracia desqualificando o mercado interno em favor do mercado globalizado. Da mesma forma, a reforma agrária, porque estamos há cem anos do minifúndio e não entramos no agribusiness, ou seja, estão fazendo uma coisa que deviam ter feito há cem anos. Para você, como é um mercado interno forte?
Aloysio Biondi - A agricultura foi destruída por isso mesmo, por essa visão de que o governo não precisava comprar mais as colheitas, que o produtor pode negociar na bolsa e se defender na bolsa. É uma coisa de quem está morando em Nova York.
Ricardo Vespucci - Acho incrivel, porque isso não deixa saída nenhuma.
Aloysio Biondi – A Gazeta Mercantil deu na sexta-feira passada, no pé da última página, que a União Européia, com medo da superproducão mundial de alimentos este ano, tocou imposto de 25 por cento em cima dos grãos, para barrar importações e proteger seus agricultores. É ridículo o Fernando Henrique fazer um discurso dizendo que os países ricos subsidiam a sua agricultura com 160 bilhões de dólares por ano. Ele foi na OMC, a Organização Mundial do Comércio, e fez esse discurso pedindo o fim das barreiras. Então, ele tem essa informação, e depois diz que o produtor brasileiro não pode ter subsidio, não pode ter preço mínimo, tem de ser livre mercado, quando se sabe que não é assim lá fora. O mercado interno é por ai. E acho que não existe mistério: criar renda é criar produção. Quando alguém compra um pãozinho por 10 centavos, uma salsicha por 18 centavos e vende por 50 centavos, criou renda e criou capacidade de consumo. Quer dizer, isso multiplicado por todas as áreas… O que é PIB? PIB é 0 valor acrescido.
João Noro - Nessa política que obviamente todo mundo já estava prevendo o que ia acontecer - a alienação do ativo brasileiro. a alienação de toda a economia -, quem leva vantagem nisso? Essa equipe econômica?
Aloysio Biondi – Sim, essa ocupação política foi implantada. Exatamente como diz a mestra Maria da Conceição Tavares, os Estados Unidos forçaram a abertura dos outros mercados para compensar o déficit com o Japão, que não conseguiam compensar nunca. Agora, o empresariado nacional, se a gente relembrar a euforia inicial de globalização, da entrada de dólares, achou que ia ter um banquete. E não percebeu que era o prato principal do banquete. (risos) Eu queria explicitar, aqui, nada me provocou mais indignação do que a quebra da Metal Leve. Por quê? Porque o Mindlin foi sempre o empresário que mais se preocupou com tecnologia no Brasil. Tanto que em 1968 fiz uma matéria sobre a enxurrada de importações e citava um exemplo tirado do noticiário: a FAB importou pistão para motor de avião dos Estados Unidos e, quando os caras abriram a caixa, estava lá que era fabricado pela Metal Leve. (risos) Porque ela exportava para a NASA. A Romi, por exemplo, naquela época, em 1968, fazia as máquinas de controle numérico, as precursoras do computador, e fazia tomos para exportar para os Estados Unidos. Isso desmente a imagem de que não temos tecnologia, que o empresário é acomodado etc. Então, para criar renda, criar um mercado mterno, você tem uma política de criar emprego, como a da Franca. Na época da ditadura, a esquerda - esquerda? -, esses caras que estão no governo, debatiam isso o tempo todo. O Bacha, no livro Encargos Sociais e Mão-de-Obra no Brasil, em 1972, propunha que a previdência fosse cobrada como nos outros países, sobre o faturamento e não sobre a folha de salário. Porque, para pagar menos à previdência, a empresa automatizava. No governo Geisel, que fez coisas sérias, o BNDES criou uma linha de financiamento para a indústria de base porque importávamos máquinas maciçamente, apoiando a Villares, Romi, Bardella etc. Mas tinha mais duas linhas, inclusive um dado que foi muito usado para dizer que o governo tinha até fábrica de sutiã, nessa onda da lavagem cerebral. Por que o governo tinha até fábrica de sutiã? Por uma política econômica sábia. Porque o BNDES apoiou os setores de base, onde era importante a tecnologia, mas apoiou também os setores que usavam muita mão-de-obra, como o setor têxtil.
Sérgio de Souza - A política desse governo está afetando também os centros de pesquisa, as universidades?
Aloysio Biondi - Há um mês, li na Gazeta Mercantil, lá no pé de página, o seguinte: “Instituto Agronômico de Campinas fecha centro de documentação e centro de treinamento de pessoal”. Motivo: falta de pessoal por falta de verbas, baixos salários… Nesta campanha, não vi um candidato falando na situação da pesquisa. E este pais tem momentos tão nojentos, que, nessa história toda sobre o déficit a dona revista Veja publicou uma matéria com um titulo que era “As vacas do Itamar”. O objetivo era desmoralizar o Itamar, que era uma época de contenção e o Itamar liberou verba para a Embrapa. A Embrapa estava sem dinheiro até para pagar conta de luz, perdeu pesquisas porque tinha embriões em geladeira, que apodreceram, aquelas coisas. Aliás, se um dia eu for escrever alguma coisa, queria escrever o caso Itamar. Porque houve um golpe branco contra ele. Começaram a dizer que, já que ele foi eleito junto com o Collor, ele também tinha se beneficiado do esquema PC e também devia sofrer impeachment. Aí, ele se enquadrou direitinho. E a imprensa sempre apresentou o Itamar como um paspalhão.
Carlos Azevedo - Ele foi um senador muito bom, inclusive.
Aloysio Biondi - Foi líder estudantil, foi presidente da Comissão de Energia Nuclear.
Sérgio de Souza - Mas arrasaram com a imagem dele.
Aloysio Biondi - Você estava numa recessão, ele procurou reativar a economia e houve mil editoriais chamando o Itamar de irresponsável, que ele era um dinossauro, que ia levar 0 país de volta à inflação, porque ele era um alvo muito fácil. Ninguém fala que ele tirou a economia do fundo do poço. E hoje estamos pior do que nunca.
João Noro - Você acha que o euro vai ameaçar a dinastia do dólar?
Aloysio Biondi – Se o De Gaulle ressucitar, pode ser. (risos) Foi o único que quis. Não, acho que vai haver uma mudança. Os Estados Unidos já começaram a ter dados negativos por causa desse crescimento das importações? O americano se endividou pra burro. A taxa de poupança dos Estados Unidos nunca esteve tão baixa, um endividamento altíssimo para o consumidor. E realmente as quedas em Wall Street representam um empobrecimento para quem pensava que tinha tanto que receber. E as empresas de lá começam a apresentar balanços negativos. Então, acho que a bola da vez, na verdade, são os Estados Unidos. Vai terminar um ciclo em que eles se aproveitaram de todos os outros países.
A desvalorização inevitável
João Noro - E que medidas você acha que o governo brasileiro vai tomar para sair da atual sinuca de bico?
Aloysio Biondi - Continuo achando que não vai dar para segurar.
Marina Amaral - Tem de desvalorizar o real, é isso?
Aloysio Biondi - Acho que não dá para segurar até depois da eleição, não. Até o tom das análises com relação ao Brasil mudou completamente nos últimos dez dias. Você teve ainda aquela história que o Clinton ia ajudar, mas apareceu o secretário de Estado, o banqueiro, todo mundo falando que o Brasil tem de fazer um ajuste firme, que não vai ter ajuda antes. Gente, esse dado de 105 bilhões de reais que o governo tinha de pagar de junho a outubro não dá para segurar. Ter de rolar 105 bilhões em quatro meses. O mercado já rejeitou, é porque os jornais não dão direito, mas já está a caminho.
João Noro - Vai ter de dar calote, não é?
Aloysio Biondi - Bom, esta entrevista vai sair depois da eleição, não é? Ou eles dão o calote lá fora, o que acho altamente problemático, ou fazem um tipo de confisco aqui dentro. Como eles vão rolar?
Marina Amaral - Quer dizer que esse ajuste fiscal é um confisco aqui dentro?
Aloysio Biondi - Veja bem, a máxi pode ajudar pelo seguinte: por que o investidor sai quando há ameaça de uma máxi? Porque todo mundo pensa que ele ganha na máxi. Não, não ganha, porque trouxe 100 dólares e trocou por reais, digamos assim. Quando quer mandar para fora de novo, vai no Banco Central e troca de novo. Digamos que não houve desvalorização nenhuma: ele recebe os mesmos 100 dólares. Se houver a máxi de 20 por cento, ele recebe 80 dólares. Então teve prejuízo. É isso, não existe ataque especulativo, é que ele não pode correr o risco de um prejuízo desses, só isso. É matemática. Por isso é que todo mundo se mandou. Não adianta o Fernando Henrique falar que não vai fazer. Pelo quadro, não dá para não ter uma máxi. É também grotesco fazer um apelo para ajudarem o Brasil porque “o Brasil é importante”. Que é isso?
Carlos Azevedo - Globalizacão solidária. (risos)
Aloysio Biondi - Pois é, quem ajudou os asiáticos? Primeiro deixaram os asiáticos quebrar. Inclusive tem declarações de banqueiro dizendo que o governo do Brasil “há muito tempo devia ter feito o ajuste, não fez, por que nós vamos ajudar agora?” Então, veja bem, se você fizer uma máxi, ai mais tarde esse pessoal que saiu pode até voltar, só que já em julho estava tendo férias coletivas da indústria automobilística! Então, vem a história: mas o PIB vai crescer! Como o PIB vai crescer se a indústria eletroeletrônica está vendendo 30 por cento a menos? Se a indústria automobilística está vendendo 60.000 carros a menos que em outubro do ano passado? É o contrário. E, como eles calculam tudo em relação ao PIB, esse déficit, que já está em 8 por cento do PIB, está levando em conta que o PIB vai chegar a 900 bi - não, não vai chegar, ele vai cair. Então, por uma coisa meramente estatistica, aritmética, o rombo vai aumentar. Não vai aumentar nenhum tostão, mas vai aumentar percentualmente
Marina Amaral - Mas você acha que o grande trunfo, o real, vai ser desvalorizado antes da eleição?
Aloysio Biondi - Acho que não segura, inclusive essas grandes reuniões nos Estados Unidos, mandaram o Pedro Parente para lá etc., você acaba até tendo pena, é a credulidade, acabam tendo um otimismo doentio, é esquizofrenia. O Tanzi, diretor do FMI, chega em julho e fala que o Brasil esta quebrado, que tem de fazer o ajuste e ainda, quem sabe, só depois da eleição. O que mostra que o FMI, o Camdessus, tem uma imensa simpatia pelo Brasil, mas não tem dinheiro. Em segundo lugar, banqueiro é banqueiro. Em qualquer recuperação você passa primeiro pelo purgatório. Vai descer ao purgatório e ao inferno. Foi assim com os tigres asiáticos, que estão crescendo agora.
Sérgio de Souza - E recessão declarada, com certeza?
Aloysio Biondi - Aí, faltou uma coisa que eu quero dizer, que é o seguinte: vivi 1974. Foi uma fase de euforia mundial, uma época de a classe operária ir ao paraíso, aquela fase de consumismo desenfreado, e todo mundo projetou investimento, a petroquímica, a siderurgia etc., com base na demanda. Mas com base num ritmo de demanda que era temporário. Em 1974, tivemos um rombo na balança comercial, além do choque do petróleo. Eu estava na Gazeta Mercantil, o que me alertou foi um anúncio no Estadão, em Negócios e Oportunidades, um anúncio grande: “Indústria vende chapas de aço”. Mandei o repórter ver o que era. Era a Volkswagen. Como a demanda estava baixa, as multinacionais desovaram os estoques de matéria-prima nas suas filiais. E de repente o mundo descobriu que não ia ter aquele consumo da capacidade instalada. E isso está acontecendo com a euforia do neoliberalismo, da globalizaçãoão. A revista The Economist publicou, quase um ano e meio atrás, uma capa mostrando essa loucura da corrida das multinacionais instalando fábricas automobilísticas no mundo inteiro. Você fala assim: “Mas o que o neoliberalismo tem a ver com isso?” Teve a euforia. É o seguinte: como a indústria automobilística no Brasil foi montada? O governo estabelecia metas de produção, de acordo com a sua balança comercial - quanto vai gastar aquele setor que importar em peças, componentes. Dizia: no primeiro ano vai usar 5 por cento de peça nacional, no segundo 10 por cento, no terceiro 30 por cento, vai ter que ter produção local. Era um planejamento coincidente com a capacidade de gerar divisas no pais. Não era esse negócio porra louca. Ai, o tal do neoliberalismo diz que planejamento é intervenção do Estado, e que estraga tudo, porque o consumidor ganharia mais se todas as empresas tivessem liberdade de operar… É um mercado totalmente superdimensionado. Com essa história de você não planejar o tamanho de cada setor, as multinacionais não querendo ficar atrás umas da outras, correram todas para investir em todos os países.
Marco Frenette - E o que fazer?
Aloysio Biondi - Como se fez no passado: “esse setor aqui só pode ser deste tamanho”. Então, para os primeiros projetos, ou para os piores projetos, uma espécie de licitação mesmo – para estes eu dou isenção de imposto para importar peças, para botar máquina. Quem vier fora disso vai pagar. Quem tiver de fazer o investimento pagando imposto não vai poder concorrer com o outro.
Marco Frenette - E não existe planejamento porque são lobbies?
Aloysio Biondi - Não existe planejamento porque o neoliberalismo prega que o Estado não deve intervir porque prejudica o consumidor. Ele diz que é melhor que todas venham, briguem. Isso é o que antigamente os economistas chamariam de irracionalidade na alocação de recursos na sociedade. Porque tudo isso vai ser perdido. Acho que a gente vai passar por um terremoto muito grande. Às vezes acho que esse pessoal do governo aprendeu um pouco, depois acho que não. Você vê 0 Mendonça de Barros encarregado do comércio exterior, em pleno mês de setembro, dizendo que vamos faturar mais com exportações de soja e café, quer dizer, ignorando que os preços estão em queda. Você está na mão de delirantes. Como falar em reação da economia? Eletroeletrônicos, que foram aquela loucura, mas acabaram caindo 35 por cento no ano passado, este ano estão caindo mais 20 por cento. A indústria automobilística produzia 200.000, está com 140.000. Tudo isso tem efeito multiplicador, derruba a cadeia de multiplicação inteira: é o aço, a borracha, o plástico…
Sérgio de Souza - Faltou dizer algo, Biondi?
Aloysio Biondi - Não, só enfatizar que acredito que seja um ciclo que está terminando, que o problema agora será dos Estados Unidos, e nós, infelizmente, vamos passar pelo purgatório que outros países iá passaram. Espero que essa virada tenha ensinado alguma coisa para as pessoas, e que talvez os meios de comunicação percebam que eles ajudaram a afundar o país. Tenho os jornais guardados. Tem até o Fernando Henrique dizendo, em outubro de 1995: “Quando alguém me fala de recessão, eu tenho vontade de dar uma gargalhada”. (risos)

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