A "débàcle" do mercado imobiliário produziu os seus monstros em Portugal e em Espanha.
O “Wall Street Journal”, esta semana, deu a conhecer um dos casos paradigmáticos da ressaca espanhola do que chamam uma “‘fiesta’ épica”, “cuando pensábamos que éramos ricos” [quando pensávamos que éramos ricos]. Os habitantes da Torre Lugano de Benidorm, o maior edifício residencial em Espanha estão a braços com um processo judicial a orçar os 28,2 milhões de euros contra os promotores do edifício, alegando “graves defeitos na construção”.
A obra, erigida na orla costeira da estância balnear da Comunidade Valenciana, fora publicitada como um empreendimento de luxo: vista privilegiada sobre o Mediterrâneo, um elevador de vidro, acabamentos de luxo, preços entre os 180 mil e 710 mil euros.
Entretanto, a bolha rebentou. Depois de uma década que viu um ‘boom’ no mercado imobiliário acontecer, transformando a orla costeira de Valência num dos “maiores mercados especulativos no imobiliário do planeta”, o que aconteceu com a emblemática Torre Lugarno é paradigmático do estado do mercado imobiliário em Espanha e da ressaca de uma década de excessos no sector.
Os problemas começaram já em 2006, perto do pico da ‘bolha’ do sector: os construtores alegaram ‘atrasos’ na construção devido à falta de materiais disponíveis, numa época em que o desemprego – agora nos 20% - se situava abaixo da média nacional na Comunidade Valenciana, subsistindo através de grandes variações sazonais no sector da construção.
O edifício, promovido por um consórcio de bancos da região e a Acciona, uma das maiores construtoras castelhanas, viu mais de um terço dos seus apartamentos não serem vendidos depois do início da crise financeira mundial.
No fim da sua construção, os já moradores do edifício que corta a ‘skyline’ de Benidorm começaram a notar diferenças nos acabamentos que levaram a que os moradores do empreendimento, outrora vendido como de luxo, sofressem infiltrações, padecessem de falta de água durante dias devido a avarias no bombeamento, ferros corroídos nos gradeamentos, andares inteiros sem electricidade devido a ligações deficientes e perigosas. Moradores foram obrigados recentemente a tomar banho em chuveiros públicos, segundo o WSJ, devido a problemas nas canalizações num edifício cujos prospectos prometiam, em 2003, ginásio, piscinas e campos de ténis para os moradores.
Espanha precisaria de três anos para vender todas as habitações construídas
Agora, o país vizinho lida, segundo o WSJ, com 1,5 milhões de casas incompletas, não vendidas ou inclusive abandonadas no meio de uma crise que incapacitou a economia espanhola. Analistas aventam que um mercado em condições regulares necessitaria de três anos para vender todas as habitações construídas durante a bolha castelhana.
Casos emblemáticos estão espalhados pelo país: a Expo de Saragoça permanece abandonada depois de dois anos, apesar dos planos para tornar a zona num ‘business center’ no noroeste da Península Ibérica, ou o aeroporto de Ciudad Real, “muito pouco utilizado” e “a lidar com milhares de euros de passivo”.
Portugal: condomínios-fantasma
Em Portugal, o cenário repete-se, mas órfão de símbolos emblemáticos como a Torre de Benidorm. A revista “Visão” traz casos, esta semana, de condomínios-fantasma no parque imobiliário português.
Segundo a revista, há 300 mil casas por vender em Portugal. Uma “classe média-baixa” incapacitada de pedir empréstimos fez o mercado encolher de forma drástica. Uma crise discreta, mas que vai produzindo os seus erros, visíveis através de casas inabitadas durante anos, com piscinas vazias e inutilizadas, e muitas vezes até mesmo vandalizadas.
A Vila Manique, em Cascais, um empreendimento de sete moradias geminadas que entrou no mercado em 2002, esteve habitado durante seis anos por uma única família – à que se veio juntar outra, apenas em 2010, segundo a edição desta semana da revista. A juntar à falta de vizinhos, as avarias nos equipamentos do condomínio são constantes.
Entre agentes imobiliários que evitam falar do assunto, a condomínios inteiros totalmente vazios, de acabamentos desactualizados e pouco atractivos, passando pela queda constante dos preços das habitações, algumas vezes abaixo do seu valor real de construção e sob o mantra do ‘negociável’, juntam-se os leilões das casas devolvidas aos bancos por incumprimento dos pagamentos.
Segundo a “Visão”, os dados do Índice Confidencial Imobiliário, as vendas de habitações no mercado português estão a demorar 22 meses entre a sua entrada no mercado e a consumação da venda.
Segundo dados do INE de 10 de Setembro, foram licenciados no segundo trimestre deste ano 7.100 edifícios e concluídos 10.200, o que representa uma variação anual de -12,9% e -3,7%, respectivamente. A região da Madeira, com quebras de 44,5% no número de fogos licenciados em construções novas para habitação familiar, e do Algarve, em 42,9%, foram as regiões que mais sofreram com a retracção do mercado imobiliário.
A obra, erigida na orla costeira da estância balnear da Comunidade Valenciana, fora publicitada como um empreendimento de luxo: vista privilegiada sobre o Mediterrâneo, um elevador de vidro, acabamentos de luxo, preços entre os 180 mil e 710 mil euros.
Entretanto, a bolha rebentou. Depois de uma década que viu um ‘boom’ no mercado imobiliário acontecer, transformando a orla costeira de Valência num dos “maiores mercados especulativos no imobiliário do planeta”, o que aconteceu com a emblemática Torre Lugarno é paradigmático do estado do mercado imobiliário em Espanha e da ressaca de uma década de excessos no sector.
Os problemas começaram já em 2006, perto do pico da ‘bolha’ do sector: os construtores alegaram ‘atrasos’ na construção devido à falta de materiais disponíveis, numa época em que o desemprego – agora nos 20% - se situava abaixo da média nacional na Comunidade Valenciana, subsistindo através de grandes variações sazonais no sector da construção.
O edifício, promovido por um consórcio de bancos da região e a Acciona, uma das maiores construtoras castelhanas, viu mais de um terço dos seus apartamentos não serem vendidos depois do início da crise financeira mundial.
No fim da sua construção, os já moradores do edifício que corta a ‘skyline’ de Benidorm começaram a notar diferenças nos acabamentos que levaram a que os moradores do empreendimento, outrora vendido como de luxo, sofressem infiltrações, padecessem de falta de água durante dias devido a avarias no bombeamento, ferros corroídos nos gradeamentos, andares inteiros sem electricidade devido a ligações deficientes e perigosas. Moradores foram obrigados recentemente a tomar banho em chuveiros públicos, segundo o WSJ, devido a problemas nas canalizações num edifício cujos prospectos prometiam, em 2003, ginásio, piscinas e campos de ténis para os moradores.
Espanha precisaria de três anos para vender todas as habitações construídas
Agora, o país vizinho lida, segundo o WSJ, com 1,5 milhões de casas incompletas, não vendidas ou inclusive abandonadas no meio de uma crise que incapacitou a economia espanhola. Analistas aventam que um mercado em condições regulares necessitaria de três anos para vender todas as habitações construídas durante a bolha castelhana.
Casos emblemáticos estão espalhados pelo país: a Expo de Saragoça permanece abandonada depois de dois anos, apesar dos planos para tornar a zona num ‘business center’ no noroeste da Península Ibérica, ou o aeroporto de Ciudad Real, “muito pouco utilizado” e “a lidar com milhares de euros de passivo”.
Portugal: condomínios-fantasma
Em Portugal, o cenário repete-se, mas órfão de símbolos emblemáticos como a Torre de Benidorm. A revista “Visão” traz casos, esta semana, de condomínios-fantasma no parque imobiliário português.
Segundo a revista, há 300 mil casas por vender em Portugal. Uma “classe média-baixa” incapacitada de pedir empréstimos fez o mercado encolher de forma drástica. Uma crise discreta, mas que vai produzindo os seus erros, visíveis através de casas inabitadas durante anos, com piscinas vazias e inutilizadas, e muitas vezes até mesmo vandalizadas.
A Vila Manique, em Cascais, um empreendimento de sete moradias geminadas que entrou no mercado em 2002, esteve habitado durante seis anos por uma única família – à que se veio juntar outra, apenas em 2010, segundo a edição desta semana da revista. A juntar à falta de vizinhos, as avarias nos equipamentos do condomínio são constantes.
Entre agentes imobiliários que evitam falar do assunto, a condomínios inteiros totalmente vazios, de acabamentos desactualizados e pouco atractivos, passando pela queda constante dos preços das habitações, algumas vezes abaixo do seu valor real de construção e sob o mantra do ‘negociável’, juntam-se os leilões das casas devolvidas aos bancos por incumprimento dos pagamentos.
Segundo a “Visão”, os dados do Índice Confidencial Imobiliário, as vendas de habitações no mercado português estão a demorar 22 meses entre a sua entrada no mercado e a consumação da venda.
Segundo dados do INE de 10 de Setembro, foram licenciados no segundo trimestre deste ano 7.100 edifícios e concluídos 10.200, o que representa uma variação anual de -12,9% e -3,7%, respectivamente. A região da Madeira, com quebras de 44,5% no número de fogos licenciados em construções novas para habitação familiar, e do Algarve, em 42,9%, foram as regiões que mais sofreram com a retracção do mercado imobiliário.
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