19 de set. de 2010

'O perigo de uma nova crise continua grande' Autor(es): Agencia o Globo O Globo - 19/09/2010

'O perigo de uma nova crise continua grande'


Instituto Max Planck, de Munique, há o perigo de bolhas em países emergentes, como China e Brasil, porque essas nações seriam alimentadas hoje, em parte, pelo excesso de liquidez dos países industrializados. Autor do livro Schulden ohne Sühne (Dívidas sem expiação, em livre tradução), pela editora C.

H. Beck, Konrad, de 49 anos, afirma que a situação da Europa continua sendo bastante delicada. Em três anos, quando acabar a validade do pacote da União Europeia de ajuda aos países endividados, a insolvência de um deles poderia ser um terremoto capaz de ofuscar a última crise. O perigo continua grande, disse em entrevista ao GLOBO.
Graça Magalhães-Ruether
Correspondente
O GLOBO: É possível uma nova crise, tão grave quanto a que começou em 2008? KAI KONRAD: Se houver uma insolvência em nível europeu, então teríamos um terremoto que ofuscaria a última crise. O perigo continua grande. Trata-se de um desdobramento que não vai ocorrer amanhã, mas pode vir nos próximos dez anos. O risco de uma nova crise nos próximos três anos vejo como pequeno.
Há perigo também nos países emergentes? KONRAD: Uma grande parte do excedente de liquidez dos países ricos, principalmente de EUA e na Europa, foi transferido para os países emergentes, o que pode causar novas bolhas. Se houver um problema na China, os efeitos seriam graves na Europa, que está se recuperando às custas da fome de importação chinesa. Há anos se fala sobre o superaquecimento da China, que pode chegar a um colapso.
O endividamento dos países industrializados pode desencadear uma nova crise? KONRAD: O nível de endividamento dos países industrializados adquiriu uma dimensão nunca vista em tempos de paz. Explosão das dívidas como vimos agora tinha ocorrido antes somente nas guerras mundiais.
Há então o perigo de uma nova crise? KONRAD: Se não forem tomadas medidas, chegaremos a situação de que países europeus que aumentaram as suas dívidas precisarão ser ajudados pelos outros e, com isso, teremos uma comunidade de transferência, o que oculta muitos perigos. Um deles é o de falência de todo o grupo do euro. O segundo é o de que a Europa possa rachar como bloco monetário. Poderemos chegar à situação extrema de que alguns países europeus não queiram mais participar e prefiram deixar o bloco.
A situação de Grécia, Espanha e Portugal melhorou? KONRAD: A calma é apenas temporária. Com o grande pacote de socorro da UE, deixa de existir o perigo de uma insolvência atual desses estados.

Mas a questão importante é saber o que vai acontecer quando o pacote sair de vigor, em três anos, e esses países forem de novo entregues a si mesmos. Como reagirão os mercados? Esses países precisarão estar preparados para o pior, caso em três anos não tenham mais acesso a créditos do mercado. Uma saída seria o prolongamento do pacote. E aí teríamos a constatação da união de transferência, perigo sobre o qual eu falo no meu livro.
A Grécia tem chance de resolver o problema de sua dívida gigantesca em três anos? KONRAD: Eu vejo como irrealista esta possibilidade.

Mesmo um programa de saneamento ambicioso não teria o efeito necessário, porque o problema é grave demais.
Os EUA estão piores do que a Europa? KONRAD: A situação na Europa é mais precária.

Há vantagens e desvantagens. A vantagem é um Banco Central Europeu (BCE) que persegue uma meta principal e é protegido pelos acordos europeus, que só podem mudar com a assinatura de todos os membros. Isso protege mais o BCE de intervenções do que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano). O perigo de o banco central provocar uma desvalorização da moeda é maior nos Estados Unidos do que na Europa. Mas, por outro lado, temos mais problemas de orçamento na Europa do que nos Estados Unidos.

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